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CARAMBA ESSA É PRA RIR OU CHORAR? Hospitais estão à beira da falência por falta de pacientes


A rede de hospitais particulares e filantrópicos do Paraná registrou queda histórica de até 80% nos atendimentos emergenciais, internações, consultas e exames. Hospitais vazios, leitos ociosos, centros cirúrgicos parados, esse é cenário causado pela pandemia – e pelo pandemônio político-midiático.


Quem assiste ao noticiário da TV ou às cheerleaders do vírus nas redes sociais, imagina que cada hospital do país está apinhado de doentes, que há moribundos nos corredores, asfixiados lutando por um respirador, que, enfim, o sistema de saúde está por colapsar.

E, se, fora do círculo de histeria, alguém lhe dissesse que na vida real tem hospitais falindo por falta de paciente?

É isto que está acontecendo com os hospitais privados e filantrópicos do estado do Paraná. Por conta da pandemia – e do pandemônio político-midiático – a rede particular do estado registrou queda histórica de até 80% nos atendimentos emergenciais, internações, consultas e exames, segundo dados da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Estado do Paraná (Fehospar).

A baixa se explica por dois motivos.

Primeiro porque os hospitais, ao soar da trombeta apocalíptica, se organizaram para receber quase que exclusivamente os infectados pelo vírus chinês. Montou-se verdadeiras forças-tarefas, investiu em aparelhagem e EPIs, reservou-se tantos por cento dos leitos para receber as vítimas da pandemia, vítimas que, no final das contas, não vieram, ou não vieram aos montes como se alardeava.  

O Paraná tem cerca de 11 milhões de habitantes e até hoje soma pouco mais de mil infectados e 189 mortes por COVID-19, de acordo com o Portal da Transparência dos Registros Civis. Dos falecidos, conta-se 49 em Londrina (485 mil hab.) e 43 em Curitiba (1,8 mi hab.). Nada que tenha alterado os índices anuais de mortes por doenças respiratórias.

Com efeito, de acordo com Flaviano Feu Ventorim, que é o diretor da FEMIPA (Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná), os hospitais da rede que ele administra estão com ocupação de apenas 45%, variando para pouco mais ou pouco menos. Ou seja, estão subutilizados.

Na visão de Ventorim, a situação é dramática:

“Um hospital demora em média 60 dias para receber uma conta hospitalar, e comprava a prazo para pagar com 30 dias. Com a pandemia, o faturamento despencou, o custo fixo continuou, e o custo variável, em parte diminuiu e em parte subiu, como é o caso dos EPIs, que explodiu, caso de máscaras cirúrgicas e aventais. Esses itens, além de terem aumentado o preço, agora tem que ser pagos antecipado. Isso prejudicou o fluxo de caixa dos hospitais. Foi solicitado às operadoras uma reanálise dos custos nesse período, mas até o momento não há avanços”.

Alertando para o fato de que o faturamento dos hospitais deve cair 60% nos próximos meses, Ventorim, que também preside o Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Paraná (Sindipar), asseverou:

“Vamos passar rapidamente de heróis da pandemia a vilões, porque teremos que demitir, fechar”.

O segundo motivo para o esvaziamento da rede hospitalar privada é o medo. Temendo ir aos hospitais e acabar contraindo ali o coronavírus, as pessoas estão abrindo mão de tratamentos, não estão indo se consultar quando adoecem, portanto não estão fazendo os exames, por conseguinte não estão se internando. O medo do vírus fez a máquina da saúde emperrar.

No entanto, segundo Cecília Vasconcelos, diretora técnica do Hospital São Vicente, o temor é injustificado:

“Há segurança no atendimento e acima de tudo, muitos tratamentos de doenças não podem esperar.  O hospital não pode parar e nunca parou. Já lá no início da pandemia tomamos medidas estruturais impactantes no sentido de proporcionarmos segurança de atendimento tanto para o paciente quanto para nosso colaborador. O hospital está aberto e apto para tratar inclusive os pacientes com doenças não relacionadas à Covid”.

 Hospital São Francisco, em Cambé: Um caso para ilustrar

Conversando com Tiago Casemiro, conselheiro de finanças do Hospital São Francisco, em Cambé, norte do Paraná, ele me revelou que a situação ali segue o mesmo padrão. Município com pouco mais de 100 mil habitantes, Cambé, afirmou ele, conseguiu achatar a curva epidemiológica, e, até agora, registrou apenas um óbito atribuído à COVID-19 – cenário muito semelhante ao das demais cidades do interior do estado.

Mesmo assim, observou Tiago, a população segue amedrontada e tem evitado os serviços hospitalares. E as que o buscam, tem encontrado empecilhos burocráticos, como a recusa de alguns convênios a autorizar cirurgias eletivas, seguindo indistintamente uma recomendação genérica da OMS.

“Mesmo com entendimento entre médicos e pacientes de que seria seguro fazer o procedimento, alguns convênios estão relutando em autorizar as cirurgias”.

Resultado: queda da receita do hospital em 60%, o que já levou à demissão de 6 dos 165 funcionários.

E esta queda, além de motivada pela baixa procura da população, tem como causa o aumento nos custos de manutenção dos serviços. Isto porque o preço dos insumos, sobretudo daqueles ligados ao combate à epidemia, aumentou vertiginosamente.

Segundo o Tiago, em dado momento, as máscaras hospitalares, que custam em média R$ 0,11 (onze centavos), chegaram a valer abusivos R$ 16 (dezesseis reais). E altas semelhantes foram registradas nos preços dos EPIs em geral e em vários medicamentos – itens que nenhum hospital pode dispensar.

Quer dizer, tem-se ao mesmo tempo uma queda abrupta na receita e uma subida significativa nos custos. É a fórmula básica para a falência de qualquer estabelecimento comercial.

Não bastasse o quadro desolador, agrava a situação perceber que, como diria o Shakespeare, fez-se muito barulho por nada.

Perguntado sobre qual era a expectativa quando do início da pandemia, Tiago me disse que, de acordo com os estudos e as notícias, esperava-se nada menos que uma catástrofe. Prometia-se o colapso no sistema de saúde, hospitais lotados, necessidade de se construir, às pressas, centenas de novos leitos de UTI.

Essa era a expectativa. A realidade é que de março até agora o Hospital São Francisco recebeu apenas 5 infectados com a COVID-19. Destes, apenas 4 precisaram de internação. Nenhum foi para a UTI, que está com seus 6 leitos completamente vagos.

Por conta dessa situação delicada, o Hospital está promovendo a campanha “Livro de Ouro”, cujo fim é arrecadar verbas junto à comunidade para manter as operações básicas da instituição.

“O Livro de Ouro é um documento histórico usado para coletar assinaturas e a contribuição financeira de pessoas que desejam ajudar em uma causa. Cada cidadão que fizer uma doação ao hospital, que pode iniciar com apenas R$ 10, terá o nome registrado no livro”, diz o documento para divulgação da campanha.

E acrescenta Tiago Casemiro, no mesmo documento:


“Os recursos arrecadados serão destinados ao pagamento dos honorários médicos e contratos de serviços terceirizados, compra de equipamentos de proteção individual (EPI), materiais de escritório, higiene e limpeza, e alimentos”.


Vale ressaltar que embora concorde que seja fundamental a pronta retomada das atividades econômicas, Casemiro alerta para a necessidade de que a reabertura obedeça às precauções preventivas, como o uso de máscaras em estabelecimentos e transporte público, a utilização do álcool em gel e o respeito ao distanciamento social, quando for possível.

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