O novo normal não tem sido fácil pra ninguém. Vários novos hábito, muitos questionamentos, indecisões, tarefas. Nesse redemoinho tenho saído de casa pensando em tantos problemas ao mesmo tempo que, um dia desses, vivi o pesadelo que acossa a todos nessa cidade pandêmica: esquecer da máscara em casa.
Não foi um simples esquecer e se dar conta ainda na rua de casa, eu subi no ônibus. Nessas horas não aparece um amigo pra dar aquele toque, nem que seja um radical que por ele o lockdown duraria até 2022, enfim, ninguém. Eu saí de casa, passei pelos moto-táxis, atravessei a avenida, fiquei no ponto, dei uma informação a um senhor que tinha dúvidas sobre qual linha de ônibus pegar, dei o sinal, dei boa tarde ao motorista e depois ao cobrador, ainda ouvi o cobrador cochichar algo, mas nada e nem ninguém me parou.
Passei da roleta e percebi que todo mundo me olhou, pensei: uau, sou o desespero dos homens e o cobiçado pelas mulheres. A cada passo os olhares me acompanhavam. Será que é meu perfume? Sentei e descansei como um homem bonito e charmoso merece. Peguei o celular, mexi na mochila, refleti pela janela (quem pega busão vai entender mais profundamente), reposicionei o óculos e, finalmente, ajeitei a máscara.
Mas pera, que máscara? Onde está? Não pode ser possível, eu sou o mais feroz fiscal de máscara da minha casa, não poderia estar passando por aquilo. O pior, ainda descobrindo que eu não estava tão bonito assim.
Rapidamente me senti nu, mesmo sem nudez, totalmente vestido. Desci rápido do ônibus, já estava longe de casa, então o plano era encontrar alguém vendendo máscara pela rua, de preferência, sem ser visto por nenhum outro ser humano. Assim que piso fora do busão, pode até ser ilusão, mas parecia que tudo e todos me olhavam, do passarinho ao vendedor de Ice Kiss, tudo me via, senti na pele a reprovação da sociedade.
Avistei uma vendedora e logo me apressei para atravessar a avenida e comprar. Mas do nada aparece alguém me perguntando a hora, depois o trânsito atravanca e dois ônibus e uma van ficam com seus passageiros como se fossem espectadores dos meus passos. Talvez fosse tudo ilusão, mas a sensação era esta. Não consegui nem avistar ninguém desprotegido para me sentir menos só no furo ao cuidado contra a covid. Me senti a própria cloroquina.
Cheguei na venda e concluí que não era um dia de muita sorte: só tinha máscara da Barbie, das Meninas Super Poderosas e uma, como sempre, encardida do Clube do Remo. Nessa hora pensei fielmente em tirar minha cueca e fazer de máscara. Mas não, eu rezo toda noite e sei que nunca estou só: quase sem querer a moça acha uma do Paysandu no fundo da caixa.
Glória! Era de um pano horrível? Era! Parecia meio suja? Parecia! Estava com um preço super faturado? Estava! Mas salvou meu dia. Aliás, passei o resto do dia rindo ao lembrar disso. Talvez, por conta desses tempos tão difíceis, foi até bom viver esse pesadelo-aventura. Mas não desejo a ninguém. Só eu sei o que passei.
Pesadelo!
fique atento!
Use máscara!
Por: Manuel Maciel
Fonte: ver-ofato.com.br
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